Sempre fui apaixonada por trovões. Eles anunciavam a chuva que, depois de molhava terra, me entregava um sentimento de felicidade. Meu envolvimento com a natureza me acompanha deste a infância. Naquela época obviamente não sabia por que gostava do cheiro da terra molhada, por que vivia atrás da minha avó na fazenda, quando ela pegava a machadinha para buscar os legumes na sua horta ou por que colava nela com um punhado de perguntas sobre o comportamento das plantas e das flores do seu imenso jardim ao redor da casa. Por causa da minha insistência terminei por convencê-la de que já podia ter a responsabilidade de regar as plantas. Tomei para mim esta tarefa que fazia com imenso prazer!
Toda aquela dinâmica me emocionava, pois simbolizava a impermanência das coisas vivas deste mundo. Hoje eu acho também que era simplesmente porque gostava de estar bem perto, olhando cada espécie, analisando seus detalhes, descobrindo brotos novos e os frutos que nasciam. As alterações constantes das coisas da natureza, aliado ao estímulo dos nossos sentidos, como sons, odores, cores e elementos sensíveis à pele como o vento, distraiam meu pensamento e criavam novas possibilidades para o amanhã.
Todo ser vivo se modifica dia a dia. Nós humanos e a vegetação estamos, desde sempre, em constante transformação e evoluindo. Então, porque não permanecermos juntos? É isso mesmo! Estudos científicos há muito já afirmam que ter jardins internos dentro dos hospitais, por exemplo, não só ajudam no tratamento, tornando-o menos doloroso e a recuperação da saúde do paciente mais rápida, como também impedem doenças secundárias, como a melancolia e a depressão. Enquanto as cidades crescem e a população brasileira torna-se predominantemente urbana, que tal resgatar a importância de viver perto da melhor simbologia da nossa existência, através dos elementos da natureza? Na infância distante lá na fazenda da minha avó sabia que da terra e da água crescem o capim, a roseira e o tomate…
— Qual o nome desta flor amarela? – questionava quando criança.
— Alamanda, Cira. – respondia minha avó, sempre solícita.
— E esta árvore pequena verde e amarela? – insistia.
— Isto é um cróton, minha filha.
— E esta da folha enrolada, vó?
— Cróton também…
Acredito que aquela curiosidade sem fim, as horas de observação silenciosa, fez nascer dentro de mim um vínculo que não me largou mais, um amor pelas plantas e tudo o que tem relação com elas. Por este motivo, durante minha faculdade de arquitetura, o estágio em uma empresa de projeto e execução de obras de paisagismo me reconectei com a natureza dentro da cidade. Lá conheci a gentil Lindinalva. Foi ela quem me apresentou e repetia toda tarde os nomes populares e científicos de cada espécie do horto anexo ao escritório até que eu os memorizasse por completo. Assim começou meu ofício de projetar jardins, com especificações e espaçamentos adequados, planilha e memorial descritivo e técnico de execução e manutenção. Eu plantava árvores pelas cidades, projetava e plantava mudas ornamentais em playgrounds, casas, varandas e jardineiras, prestava serviço de manutenção em vasos pelos corredores das empresas.
Quando me tornei professora do curso de arquitetura numa universidade, dentro da sala de aula confirmei para mim mesma que nossa missão é servir, tornar a vida das pessoas melhor, mais confortável, saudável e prazerosa, onde quer que elas estejam, tais propósitos não se sustentam longe do contato com a natureza. Para mim, onde a referência de bem estar e felicidade sempre estiveram associadas aos espaços verdes e naturais de qualquer forma, planejada ou não, é necessário viver pertinho delas, trazendo a consciência plena do lugar e do tempo, transformando o sentido e a dimensão dos eventos de todos os dias.
Este blog é fruto do meu propósito de oferecer às pessoas, de todas as idades, o que lhes é imprescindível: o contato com as coisas simples e vivas que, além da provocação instantânea dos nossos sentidos, representa um aliado insubstituível para a manutenção da nossa saúde física e emocional. Meu desejo é inspirar vocês a levar a natureza para dentro dos seus espaços de moradia, de trabalho ou lazer, partilhando sugestões, dicas e ensinamentos de como adquirir e cultivar plantas ornamentais para interiores e pequenas áreas externas. Vamos criar a melhor e a mais organizada estante de ideias para tornar esta prática possível e prazerosa!
Fiquem por perto para receber o conteúdo semanal de toda esta lindeza que nossos olhos não devem se esquecer de ver: a natureza – onde se produzem as nossas melhores referências de bem-estar e felicidade.
Com carinho, Cira.